O Feminino e o Sagrado
Um novo Mitologema está emergindo e pede para ser integrado... A antiga Deusa que governou terra e o céu, antes do advento do patriarcado. A Deusa é a guardiã da interioridade humana e está vindo à tona das profundas camadas da psique inconsciente. Ela desencadeia imensas forças destrutivas se não lhe prestarmos as honras e
trilharmos a senda da transformação!
1- POR ONDE ANDA A METÁFORA ? Com a perda da nossa capacidade de simbolizar, o patriarcado foi sendo imposto como verdade fundamental, através do tempo e das distorções da linguagem simbólica dos mitos, dos contos de fadas e das tradições orais que recebíamos (e já deixamos de receber) de nossas antepassadas. Quem pensa viver fora de um mito está envolto pela ilusão subjetiva totalmente elaborada pelo seu intelecto, precisamos restaurar nossa capacidade de metaforizar urgentemente, pois nossa mente não alcança nossa alma. Com o fim da nossa infância, aprendemos a considerar inferiores as abordagens da realidade que não estejam alinhadas à racionalidade, mas até as descobertas da física quântica tem nos ensinado que a nossa percepção e visão racional da realidade, é ingênua! Através dos três últimos séculos passamos da era Mágica para a Mitológica e depois para a Mental na qual estamos perdendo as crenças que nos infundem “esperança e significação”, resultando em depressão e enfermidades.
2- A DEGRADAÇÃO DA PSIQUE A sociedade patriarcal em que vivemos sofre da ausência do conhecimento do que seja “linguagem simbólica”. É essencial entendermos a linguagem simbólica para que haja o mínimo de compreensão dos aspectos objetivos e subjetivos de todas as coisas, inclusive de nós mesmas. Quando ampliamos nosso conhecimento sobre o lado subjetivo que compõem o nosso ser, entenderemos que ele contém fatores psíquicos poderosos que pertencem à nossa totalidade e não podem ser destruídos! Quando não reconhecidos e banidos de nossa vida consciente, ficarão se interpondo entre nós e os fatos e objetos que vemos, então nosso mundo fica distorcido, pois nossa visão se torna reduzida e alterada pelo fator subjetivo que foi negado, mas saiba que ele está inconscientemente presente. No séc. 19, a ciência começou a negar tanto quanto possível os fatores subjetivos e psicológicos, excluía o elemento humano e tornou a vida um conceito mecânico, o que interessava era realmente a expansão dos próprios poderes e o controle consciente do mundo objetivo. O interesse na verdade científica tornou-se uma nova fé, porque no fundo estavam interessados no fator subjetivo, mas não sabiam disso porque o que pensaram ter eliminado havia apenas escapado de sua observação, mas motivava seu entusiasmo! Enfim, no séc. 20 começamos a perceber que a felicidade e a realização não eram encontradas através da produção em massa e das novas fontes de energia. Com as conquistas científicas crescia também a neurose, a infelicidade e a sensação de frustração e falta de entusiasmo real. Mas através do estudo do inconsciente encontramos uma maneira de nos reconciliarmos com os bárbaros dentro de nós. O poder e o prestígio separados das partes altamente desenvolvidas da psique, podem ser agora aplicados às partes menos desenvolvidas, de maneira a educá-las e elevá-las de sua condição de barbarismo e degradação. (estudos do livro "Os Mistérios da Mulher" de M. Esther Harding)
3- O RETORNO AO SAGRADO O aspecto feminino é interior, abstrato, intuitivo, difuso e subjetivo e tem sido amplamente negligenciado pelas mulheres. Isso ocorre porque em nossa sociedade patriarcal o aspecto masculino que é exterior, concreto, intelectual e objetivo é considerado como o mais importante porque pode ser visto “externamente” e se compromete com metas e resultados; enquanto o feminino busca significado e sentido profundo em suas vivências. A “energia feminina” como a “energia masculina” estão presentes tanto no homem como na mulher, elas são a conexão conhecida por nós como YIN–YANG vinda da sabedoria chinesa. Com a supervalorização da energia Yang pela nossa sociedade patriarcal, as mulheres facilmente foram levadas a falsificar seus valores existenciais e quando seus aspectos internos suprimidos saíam das sombras e vinham à tona, eram rotulados de “humores” como emotividade, nervosismo, fraqueza de temperamento e geralmente resultaram e ainda resultam em males psíquicos que geram males físicos. Agora o “Sagrado Feminino”, o aspecto subjetivo e abstrato está retornando, ou seja, a consciência de dualidade na mulher e no homem precisam ser urgentemente tratados. Na mulher urge a conciliação e reequilíbrio de suas energias masculina e feminina e ela tem que se voltar para aquele aspecto subjetivo rejeitado que a ciência do séc. 19 chamou de “superstição” ou uma questão de “humor”. Este aspecto subjetivo que chamamos de “sagrado” traz de volta a “sabedoria” que nos chega através dos “insights” intuitivos dos mitos e ritos que representam projeções ingênuas das realidades psicológicas e não são deturpadas pela racionalização. Afinal os povos primitivos não “pensavam” e sim “percebiam” através de um sentido intuitivo como de fato, ainda podemos fazer hoje. Sobre estes aspectos ainda teremos muito a nos aprofundar nos estudos em grupo.
4- QUEM SÃO NOSSOS "DEUSES"? Dr. Jung dizia que somos "tão possuídos" por nossos conteúdos psíquicos, como se eles fossem “deuses”, hoje chamados de fobias, compulsões, neuroses .... quando este “deus” não é reconhecido, a egomania se desenvolve e desta mania surge a doença. (do livro - Segredo da Flor de Ouro). Múltiplos arquétipos estão presentes em nós de forma latente e podemos então apresentar sobreposição de diversos “deuses”, isso porque eles podem pertencer historicamente a uma mesma figura de origem. Dê as boas vindas aos deuses arquetípicos! Não renegue às sombras seu mito particular, quando temos nossa própria realidade reconhecida e encaramos nossas contradições e bloqueios, nos permitimos caminhar na direção da unidade de nossa psique.
5- Círculo Feminino do Árati Nosso Círculo de Mulheres se reúne com o objetivo de unir forças, potencializando o re-conhecimento, o resgate e a vivência da energia feminina. O condutor do trabalho é o centro do círculo, é lá que o “fogo se acende” e gera a força propulsora de forma espiral na exploração subjetiva de cada tema. Quando o grupo se desenvolve em união e confiança, colocamos o pé no caminho do autoconhecimento e da interiorização, redescobrindo nossa essência. A Psicologia Simbólica de Carl G. Jung é nossa base de trabalho. Reuniões de estudo que nos proporcionem conhecimento sobre quem somos, o que fazemos, porque e para que fazemos, de onde viemos e para onde vamos. Atividades que nos proporcionem “despertamento e sabedoria” e elevem nosso despertar intuitivo e nossa capacidade de trabalhar no mundo transcendente e no mundo imanente. Permitindo então, que nossa consciência se amplie para além dos “pensamentos”(porque afinal nós não temos pensamentos, eles é que nos têm!) Reativando a nossa “função transcendente” perdida na convivência com o código moral patriarcal, conseguiremos alterar as estruturas patriarcais de nossos relacionamentos e transformaremos nossas relações pessoais. O objetivo do círculo em nossa vida prática, é transformar a parcela de patriarcado existente em nós, não mais aceitando o julgamento e as escolhas do sistema, porque as nossas próprias são obscurecidas por “ausência de consciência” mesmo quando “pensamos” que “refletimos”. A experiência no círculo gera o movimento consciencial de reconhecer e alterar nossas relações externas até alterarmos o mundo para uma era pós-patriarcal.
NUNCA devemos nos esquecer de que ao refletir sobre um MITO, nosso olhar deve ser metafórico, não estamos analisando um fato histórico que se desenrola no plano físico e consciente. O mito não obedece às leis da nossa temporalidade, ele acontece num momento atemporal, num instante primordial ou seja num tempo sagrado (bem diferente do tempo profano).
Quem lê qualquer escritura sagrada com uma mentalidade histórica só "mede e calcula", limitando-se ao conceito de espaço-tempo. Já a compreensão mítica permanece na atemporalidade e ali não existem "fatos" e sim "imagens" que não podem e nem devem ser olhadas com os conceitos do pensamento racional, ou serão considerados cheios de contradições.
"...somos livres para desprezar as mitologias e teologias, mas isso não impedirá que continuemos a nos alimentar de mitos degenerados e imagens degradadas." Mircea Eliade