Em Mitologia Comparada Ganesha, Thoth, Hermes e Exú são deidades arquetípicas simbolicamente similares que em seus mitos, têm a função de "psicopompos", etimologicamente psyché (alma) e pompós (guia). Psicopompia é o ato de realizar elos de ligação entre o consciente e o inconsciente. Faremos aqui pequenas considerações sobre cada um deles em quatro textos:
IV - Exú - o emissário transportador
Na Mitologia Africana originária de Ketu (região da república do Benim), conta-se que no início de tudo havia o Orum, o espaço infinito, e lá vivia o deus supremo Olorum. Certo dia, Olorum criou uma imensa massa de água, de onde nasceu o primeiro orixá: Oxalá, o único capaz de dar vida, foi o primeiro Orixá e todos os outros foram criados depois.
Olorum deu a Oxalá o saco da criação para que ele criasse o aiyê (mundo terreno). Porém Oxalá não cuidou das oferendas necessárias para a viagem.
Exú, Orixá responsável por fiscalizar a passagem entre o mundo terreno e o Orum, não gostou da falta de cuidados de Oxalá com as oferendas. Quando Oxalá passou pela encruzilhada dos dois mundos, Exú, deus guardião deste portal, o fez sentir uma grande sede que o obrigou a furar uma palmeira com o seu Opaxorô, dela verteu o vinho de palma do qual Oxalá bebeu, se embriagou e dormiu. Então Odudua, sua porção feminina e desperta, pegou o saco e o levou até Olorum, que por sua vez, transferiu à Odudua a missão de criar o mundo.
Quando Oxalá despertou, foi ter com Olorum e como castigo nunca mais beberia o vinho de palma. Olorum também lhe deu outra missão: a de inventar os seres que habitariam o aiyê. Assim Oxalá usou a água branca e a lama marrom para criar homens e mulheres de todas as cores.
Os orixás são os remotos fundadores das linhagens que estão no passado mítico.
Exú é o Orixá emissário entre Orum e o Ayê, levando as oferendas dos homens aos deuses, trazendo dos Orixás a proteção e a identidade aos seus descendentes humanos. Observamos assim sua função de psicopompo (que interage entre dois mundos).
Os orixás interferem em tudo o que ocorre neste mundo, incluindo o cotidiano dos viventes e os fenômenos da própria natureza, nada acontece sem o trabalho de intermediário do mensageiro e transportador Exu. Nada se faz sem ele, nenhuma mudança, nem mesmo uma repetição. Seu nome significa "esfera" o que "não tem começo nem fim". Sua presença está atuando desde o ato da criação. Exu é o mais sutil e irreverente de todos os Orixás e provoca mal entendidos, disputas e armadilhas para quem fica em falta com ele. Tem variados nomes e representações imagéticas.
O tridente, um de seus símbolos mostra sua ligação com os 4 elementos: água, fogo, ar (pontas para cima) e terra (ponta para baixo). O grande falo de madeira chamado opa-ogó, pode transportá-lo rapidamente em enormes distâncias e também atrair magneticamente, objetos em grande distância. Representa a truculência, irreverência, impulsividade e a fertilidade.
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